sábado, 10 de outubro de 2015

Pessoas e Armas de Fogo

Por Rodney Richards.


... os armamentos, até agora limitados, estão agora a crescer numa escala colossal. As condições estão a extremar-se, aproximando-se do ponto em que os homens combatem nos mares, combatem nas planícies, combatem na própria atmosfera com uma violência desconhecida em séculos anteriores. Com o crescimento do armamento e dos preparativos, os perigos são cada vez maiores. ('Abdu'l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 321)
A maioria de nós somos pessoas inteligentes em muitos aspectos; mas todos nós conhecemos a frase, "as pessoas inteligentes podem fazer coisas estúpidas". Eu sei que faço. Na verdade, conclui que a estupidez do homem só está limitada pelo desejo pessoal de agradar a si próprio.

Ou, como disse Albert Einstein: "Há duas coisas que são infinitas: o universo e a estupidez humana; mas não tenho certeza sobre o universo". Claro que isto é uma frase irónica de um dos nossos maiores pensadores e cientistas; e ele nem sequer via exemplos sucessivos de estupidez nos noticiários na TV todas as noites, ou diariamente quando conduzia um carro numa estrada. Talvez nas nossas próprias palavras e acções impensadas ou descuidadas, todos nós tenhamos feito algo estúpido recentemente. Exemplos da vida real abundam quando consideramos a nossa própria estupidez e a dos outros, ou melhor, acções estúpidas.

Felizmente, sabemos que as pessoas têm capacidade para se elevar acima de palavras e acções estúpidas:
O poder do intelecto é uma dos maiores dádivas de Deus aos homens; é o poder que o torna uma criatura maior do que o animal. Enquanto, século após século, era após era, a inteligência do homem cresce e torna-se mais perspicaz, a do animal permanece a mesma. Eles não são mais inteligentes hoje do que eram há mil anos! Existe uma prova maior do que esta para mostrar a dissimilaridade do homem para a criação animal? É, certamente, claro como o dia. ('Abdu'l-Bahá, Paris Talks, p. 72)
Os seres humanos podem ter uma natureza animal inferior, mas a nossa vontade e inteligência podem superar e dominar os nossos instintos, vontades e desejos mais básicos. Os nossos espíritos-inatos - os nossos corações, mentes e almas - podem superar a natureza mais baixa, a velha natureza, da humanidade como um todo.

Por exemplo: vejamos o desejo aparentemente interminável por armas aqui nos Estados Unidos, onde vivem mais de 311 milhões de pessoas. De acordo com uma sondagem (2007 Small Arms Survey), nos Estados Unidos, existem 88,8 armas por 100 residentes, um valor superior ao existente na Sérvia, Iémene, Arábia Saudita ou Iraque. De facto, os EUA estão em primeiro lugar. A Tunísia, o último classificado, tem um décimo de uma arma por 175 habitantes. A partir de 2009, "o número total estimado de armas de fogo disponíveis para civis nos Estados Unidos aumentou para cerca de 310 milhões: 114 milhões de pistolas, 110 milhões de espingardas e 86 milhões de caçadeiras."

Isto significa que, estatisticamente, cada homem, mulher e criança nos EUA tem agora uma arma de fogo.

Você, eu e a maioria dos americanos conhecemos estas estatísticas, e conhecemos cada vez mais tragédias pessoais devidas ao uso de armas de fogo. A nossa inteligência informa-nos sobre os factos, e nós queremos conter a onda de violência armada. A mudança está a chegar devagar; aparentemente não chega a algumas áreas, mas atinge rapidamente outras.

Mas as leis e regulamentos não nos levarão até onde precisamos ir. Em vez disso, precisamos reformar e renovar a própria natureza do homem: velho contra novo; crueldade contra simpatia; ódio, raiva e ganancia contra amor e generosidade e tranquilidade.


Quando era jovem fiquei impressionado com o facto dos polícias britânicos não andarem armados. Não sabia que alguns esquadrões de elite usam armas, mas, em geral, os polícias ainda não usam armas de fogo. Para citar a Wikipédia, "No ano de 2011-12, havia 6756 Agentes Autorizados com Armas de Fogo, houve 12.550 operações policiais, em toda a Inglaterra e País de Gales, em que foram autorizadas armas de fogo e 5 incidentes em que foram utilizadas armas de fogo convencionais. Desde 2004, as forças policiais têm usado cada vez mais tasers (armas de electrochoque) contra assaltantes armados. Os tasers são considerados pelas autoridades como uma alternativa não-letal às armas de fogo."

Então, é verdade! Existem alternativas às armas de fogo para manter a ordem social - quando a população não está mais armada do que a polícia. E mais importante que isso: a população tem de confiar na polícia, um tema sob um escrutínio nos EUA após as notícias de assassinatos cometidos pela polícia e, também, assassinatos de agentes da policia. Porque devem os cidadãos ser desconfiados? Este tema fracturante está agora a ser amplamente debatido com os proprietários e não-proprietários de armas de fogo. A rápida propagação da violência armada suscitou conversas abertas sobre a posse de armas letais (incluindo por agentes policiais) neste país.

Os Estados Unidos têm participado em negociações sobre desarmamento com outras nações durante décadas e a maioria tem sido bem sucedida. Porque não começar agora as suas próprias negociações internas sobre desarmamento? As alternativas - ainda mais armas e ainda mais assassinatos - não é em nada desejável para ninguém, excepto para os fabricantes de armas. Assim em vez de sermos estúpidos, podemos ser mais espertos sobre a nossa sociedade, e tentar encontrar uma maneira de desarmá-la.

Algo drástico tem de mudar nas nossas ideias sobre liberdade pessoal e o "direito à posse de armas". Nos nossos braços devemos levar os nossos filhos para os seus berços e camas; não para as suas sepulturas.

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Texto original: The Right to Bear Babies, Not Arms (www.bahaiteachings.org)

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Rodney Richards é escritor técnico de profissão e trabalhou durante 39 anos para o Governo Estadual de New Jersey. Reformou-se em 2009 e dedicou-se à escrita (prosa e poesia),tendo publicado o seu primeiro livro de memórias Episodes: A poetic memoir. É casado, orgulha-se dos seus filhos adultos, e permanece um elemento activo na sua comunidade.

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