sábado, 12 de agosto de 2017

Ser o melhor possível e aceitar o resto

Por Peter Gyulay.


Somos criaturas nobres, criadas à imagem de Deus, mas não somos perfeitos. A nossa nobreza está latente dentro de nós, à espera de ser actualizada.

Nas palavras de Bahá'u'lláh:
Ó filho de espírito! Nobre, eu te criei, porém tu tens-te degradado. Ergue-te, pois, para aquilo que que foste criado. (Baha'u'llah, As Palávras Ocultas, #22, do árabe)

Considerai o homem como uma mina rica em jóias de inestimável valor. A educação, só por si, pode fazê-la revelar os seus tesouros e habilitar a humanidade a tirar dela algum benefício (SEB, CXXII)
Educação - educação divina - permite-nos beneficiar das jóias que estão dentro de nós próprios. Ao aplicar os ensinamentos dos mensageiros de Deus, podemos desvendar as virtudes escondidas latentes nas nossas mentes, corações e almas.

Isto não é uma tarefa fácil - na verdade, constitui a principal batalha que enfrentamos na vida. Às vezes, a tarefa parece assustadora, mas se persistirmos, podemos melhorar a passos largos; podemos purificar-nos e aproximar-nos de Deus. Este trabalho espiritual básico é importante para nós próprios, e também tem um impacto significativo sobre os outros. Desta forma, os ensinamentos Bahá’ís exortam-nos a:
Decidi-vos a alcançar a vitória sobre vós próprios, para que, por ventura, toda a terra se possa libertar e santificar da sua sujeição aos deuses das suas fantasias fúteis. (SEB, XLIII)
Somos chamados a ser o melhor que pudermos ser, para que as nossas vidas possam influenciar os outros. Esta é uma tarefa nobre e, por vezes, desconcertante, porque é fácil sentirmo-nos incapazes de mudar e até fugimos da responsabilidade de levar uma vida nobre para bem da humanidade.

Tomar a iniciativa, transformar-nos exige uma grande fé, vontade e determinação. Precisamos de fé em nós próprios e de um poder superior que nos dê força para lutar com a nossa natureza inferior. Mas também precisamos da força de vontade para lutar dia-a-dia nesta batalha. Por vezes, quando nos sentimos ligados ao espírito, o amor flui de dentro de nós e a generosidade abunda. Mas no calor do momento, quando emergem sentimentos de ódio, e as tentações surgem sorrateiramente, precisamos de uma vigilância interna, que exige um esforço constante:
Apenas se exercerdes o esforço, será certo que estes esplendores brilharão, essas nuvens de misericórdia derramarão as suas chuvas, esses ventos vivificadores surgirão e soprarão, este cheiro de almíscar doce espalhar-se-á por toda parte. (Selections From the Writings of Abdu’l-Baha, p. 245)
É claro que ninguém consegue ser perfeito, e mesmo quando tentamos fazer (e ser) o nosso melhor, falhamos e vacilamos. Agir em contradição com os padrões que queremos seguir pode muitas vezes levar-nos a não nos perdoarmos a nós próprios. Da mesma forma, também nos pode levar a fazer juízos quando projectamos esses padrões sobre os outros. Porque todos nós fazemos o nosso melhor para ter uma vida nobre, qualquer sinal de imperfeição nos outros pode tornar-se ainda mais visível e nítida.

Bahá'u'lláh adverte-nos contra isso, pedindo-nos que nos foquemos nas nossas próprias falhas:
Como podes esquecer as tuas próprias falhas e ocupar-te com as falhas dos outros? (Palavras Ocultas, #26, do árabe)
Apesar de vivermos todos no mesmo mundo, apenas podemos viver na dimensão dos nossos próprios seres individuais. Todos nós podemos esforçar-nos para, juntos, construir um novo mundo e embarcar numa busca colectiva da verdade; mas para isso, temos que viver de acordo com nossa própria inteligência e consciência. Só podemos viver as nossas próprias vidas, não a vida dos outros. Então, quando julgamos outra pessoa, estamos realmente a infringir o seu mundo interior, o direito de viver a vida que ela escolheu.

Mas é complicado quando estamos a fazer o nosso melhor para nos purificarmos, e percebemos que somos o contrário dos nossos próprios ideais. De certa forma, precisamos de um padrão duplo: um para nós próprios e um para os outros. Precisamos ser mais vigilantes com nós próprios e tolerantes com os outros. Temos que nos lembrar constantemente que as "falhas" que vemos nos outros estão fora do nosso domínio e da nossa identidade. Não são algo para julgar; são algo para aprender e ser usado na nossa determinação de nos conquistarmos a nós próprios.

A única pessoa que podemos realmente conhecer é o nosso próprio ser, e é por isso que não podemos julgar os outros. Não podemos controlar o seu comportamento; só podemos controlar o nosso. Não podemos escolher os seus ideais, apenas os nossos.

Dito isto, também precisamos ter cuidado com a maneira como nos julgamos a nós próprios. O juízo interno não significa condenação - implica uma avaliação sincera da nossa situação e acções espirituais. Quando nos avaliamos todos os dias, reflectimos sobre o nosso ser e as nossas acções em relação aos ideais que pretendemos personificar, da mesma forma que avaliamos o nosso progresso rumo a um objectivo prático, como por exemplo, melhorar nosso nível de aptidão física.

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Texto original: Doing Your Best and Accepting the Rest (www.bahaiteachings.org)

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Peter Gyulay é escritor, músico e educador da Austrália. Interessa-se pela exploração dos aspectos mais profundos da vida. Tem um site com a sua escrita e música e um blog chamado The nooks and crannies of existence.

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